História

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Pela sua localização, passa hoje por Vila Nova da Rainha um dos motores do «progresso» e do desenvolvimento com uma enorme concentração de indústrias e serviços no eixo industrial Vila Nova da Rainha-Azambuja desde que as primeiras unidades fabris do ramo automóvel se implantaram na sua área, na década de 60 do século XX. 

Lugar de estada, despacho e itinerário de reis e cavaleiros, Vila Nova da Rainha começa a ser documentalmente referida no século XIII, tem o epílogo da sua história local no século XIV, sem nunca deixar de estar ausente nos documentos oficiais. Com jurisdição autónoma efémera, de paróquia anexa a Santo Estêvão de Alenquer, a freguesia do Concelho de Azambuja, a igreja paroquial de Santa Marta, apresenta-se à História Nacional do século XIV com dois momentos marcantes, assinalados no roteiro que releva os momentos e acontecimentos mais importantes. Possui em termos de património artístico-religioso do Município, a maior composição figurativa e cenográfica azulejar, possivelmente dos finais do século XVIII, início do século XIX, relatando a vida da sua Padroeira, Santa Marta. 

Com uma superfície de 24, 055 Km2, onde, segundo os Censos de 2001 viviam 710 habitantes, Vila Nova da Rainha tem a sua referência mais antiga no ano de 1232, torna-se o primeiro centro na história da aviação militar no início do século XX e entra no século XXI, com a Assembleia da República a reconhecer-lhe a categoria de Vila.

Igreja de Vila Nova da Rainha

 “Vila Nova da Rainha e o Casamento de D. Nuno Álvares Pereira”

Acontecimentos que marcam profundamente a história de uma localidade, seja devido à importância dos mesmos, seja devido à fama dos seus protagonistas. É o caso de Vila Nova da Rainha e do casamento de D. Nuno Álvares Pereira com D. Leonor de Alvim, que foi celebrado no dia 15 de Agosto de 1376.

Foi, sem dúvida, o estatuto de figura quase mítica que o noivo alcançou alguns anos depois que determinou a inscrição do evento na memória colectiva de Vila Nova da Rainha. 

Recordamos que tal sucedeu por via das suas capacidades de estratega militar e do papel decisivo que exerceu na defesa do reino, bem como da influência política, da riqueza económica e do prestígio social que adquiriu.

Nuno Álvares Pereira tinha nascido em 1360, fruto de uma ligação amorosa entre o prior da Ordem do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira, e uma dama da corte, Iria Gonçalves do Carvalhal.

A criança, a quem o rei D. Pedro concedeu a legitimação no ano de 1361, foi educada na companhia do pai. Vivendo no seio de uma ordem religioso-militar, não é de estranhar que cedo tenha revelado apetência pela cavalaria e que as suas leituras preferidas estivessem relacionadas com a temática.

A primeira oportunidade para Nuno evidenciar o seu valor surgiu em Fevereiro de 1373.

Notemos que a esperança média de vida na Idade Média era reduzida e, por conseguinte, a entrada na vida adulta era feita de modo precoce.

Tratava-se então a Segunda Guerra Fernandina (1372-1373). Estando o Rei D. Fernando presente em Santarém e encontrando-se junto dele D. Álvares Gonçalves Pereira e alguns dos seus filhos, Nuno foi destacado para conduzir uma patrulha e proceder ao reconhecimento de hostes castelhanas.

A missão foi desenvolvida de maneira tão satisfatória que a Rainha D. Leonor Teles quis premiar o jovem. A narração contida a este propósito na Crónica do Condestável é algo confusa, visto sustentar que a Rainha escolheu Nuno para seu escudeiro, armando-o de seguida cavaleiro.

Ora, a condição de escudeiro precedia, normalmente, a de cavaleiro na carreira das armas, constituindo uma espécie de estágio de aprendizagem. Por outro lado, a cerimónia de

investidura apenas podia ser presidida por uma pessoa do sexo masculino, necessariamente, já 

detentora da dignidade de cavaleiro. Portanto, se D. Leonor Teles se agarrou, de facto, ao direito de armar Nuno, fê-lo contra as regras estatuídas.

A pedido do pai, Nuno Álvares Pereira foi acolhido na corte ainda naquele ano de 1373. A medida tinha em vista aprimorar a sua educação e colocá-lo próximo do centro do poder, onde lhe seria, relativamente fácil obter honras e benesses. A atestá-lo está a doação vitalícia da terra de Pena e das respectivas rendas, que lhe foi feita, em 29 de Maio de 1376.

Por esta altura, já D. Álvaro Gonçalves Pereira pensava a sério no estabelecimento do filho por outra via, a do casamento. O interesse subjacente ao projecto obrigava, naturalmente, a que a noiva pertencesse à nobreza e fosse abastada. A eleita foi D. Leonor de Alvim, uma proprietária de terras na região de Entre Douro e Minho, conhecida pelo seu carácter bondoso, que enviuvara do fidalgo Vasco Gonçalves Barroso.

D. Leonor tomou conhecimento da proposta através de um enviado do prior da Ordem do Hospital, o cavaleiro João Fernandes, acedendo imediatamente a ela. A única condição que impôs para a efectivação da união foi o consentimento expresso do Rei D. Fernando, o qual foi obtido sem quaisquer problemas.

Quanto a Nuno Álvares Pereira, que foi pela primeira vez confrontado com o plano durante uma temporada passada junto ao pai, a decisão foi mais difícil de tomar. O casamento estava fora dos planos do fidalgo, cuja juventude era passada a caçar e a cavalgar. Além de prezar esta liberdade, Nuno desejava manter-se virgem a fim de imitar o seu herói, Galaaz, um dos cavaleiros da Távola Redonda, cujas aventuras eram descritas na Demanda do Santo Graal.

Em razão das reticências manifestadas pelo noivo, D. Álvares Gonçalves Pereira reclamou a intervenção da mãe dele e de outros familiares, que o conseguiram persuadir, finalmente.

Foram, pois, constrangimentos de ordem social que acabaram por ditar a cedência de Nuno Álvares Pereira, tornando possível que duas pessoas que provavelmente, nunca se tinham visto e que não sentiriam especiais sentimentos um pelo outro se unissem pelos laços matrimoniais. Os interesses das linhagens, que estavam associados ao estabelecimento de alianças políticas e economias, acabavam por se sobrepor, muitas vezes, aos interesses pessoais.

Importa discutir de seguida a escolha do local de celebração do enlace. A razão fundamental para que a cerimónia se tenha realizado em Vila Nova da Rainha prendeu-se com o facto de a corte estar ali instalada, pelo menos, desde o mês de Maio de 1376. Desta sorte, foi para esta localidade que os noivos foram convocados. 

A estadia do monarca em Vila Nova da Rainha não deverá surpreender ninguém. Na qualidade de senhor dos senhores, o rei de Portugal tinha o direito de itinerar por todo o Reino e de receber aposentadoria, isto é, as populações deviam providenciar os meios necessários (casa, roupa, alimentos, animais, palha, lenha, etc) à sua subsistência, assim como à da família real e dos respectivos séquitos.

A itinerância constituía um modo de o rei consumir, junto com a corte, os bens perecíveis que lhe estavam consignados nos impostos. Acrescia que as deslocações permitiam ao soberano fiscalizar a administração e exercer, afectivamente, a sua autoridade sobre os diversos domínios nacionais.

As viagens da corte estavam, no entanto, restringidas aos limites da rede viária existente, quase toda ela herdada do período romano. Esta fazia a ligação entre os centros urbanos mais pujantes em termos demográficos, económicos e culturais. O mesmo é dizer que os circuitos mais trilhados eram os que davam acesso a Lisboa, Coimbra, Évora e Santarém.

D. Fernando não foi excepção á regra. A maior parte do ano de 1376 foi por ele passada, precisamente, na região de Santarém. A proximidade de Vila Nova da Rainha em relação a esta cidade ajuda a explicar a passagem da corte pela povoação, à semelhança do que acontecera em

1375 e voltaria a acontecer em 1379.

A oportunidade de contactar de perto com a corte e o rei não terá sido desperdiçada pelos moradores de Vila Nova da Rainha para alcançarem privilégios. A sua concessão era uma

prerrogativa régia, accionada para recompensar os serviços prestados por alguém ou, no caso de localidades, para fomentar o desenvolvimento local.

Os privilégios eram tão mais facilmente obtidos quanto aos interessados estavam próximos do soberano, fosse por ele estar em condições de abordado directamente, fosse por haver a possibilidade de pedir a intercessão de alguém, nomeadamente, um membro da família real ouum alto funcionário.

Neste contexto, D. Fernando Concedeu aos habitantes de Vila Nova da Rainha, a 20 de Julho de 1375, as mesmas «graças e mercês, privilégios, honras e liberdades» que ele próprio e os ses antecessores tinham outorgado a Salvaterra de Magos, os quais se traduziam, sobretudo, em isenções de obrigações e serviços. No dia 3 de Fevereiro do ano seguinte, o monarca elevou a povoação à qualidade de vila e concedeu-lhe autonomia administrativa em relação ao concelho de Alenquer. 

Vila Nova da Rainha estava, pois, em plena ascensão quando ali teve lugar o enlace de D. Nuno Álvares Pereira e D. Leonor de Alvim. Não tendo sido divulgados pormenores da cerimónia, apenas podemos supor que, segundo o costume em vigor na época, o casamento terá sido celebrado no interior da igreja ou á sua porta, vestindo os noivos os melhores trajes que

possuíam. Certo é que, atendendo á condição de viúva de D. Leonor, a boda não foi acompanhada de festejos, pelo que, ao contrário do que sucedia na generalidade dos casamentos nobres, ficaram por realizar banquetes, saraus de dança e canto, touradas, justas e torneios.

Logo no dia seguinte, os recém-casados partiram para Bonjardim da Beira, onde decorreu a luade-mel, finda a qual se instalaram numa das propriedades de D. Leonor, a Quinta da Pedraça, em Cabeceiras de Basto.

A vida do casal terá sido sempre harmoniosa, interrompendo-se em 1387 com a morte de D. Leonor. D. Nuno, que além de jovem, se tornara rico e senhor de uma posição social invejável, mercê do papel decisivo que exercia na defesa do Reino, foi então alvo de maquinações da corte no sentido de o levar de novo ao altar. Desta vez, porém, a sua vontade prevaleceu.

 

No que a Vila Nova da Rainha diz respeito, voltariam a ouvir-se notícias no final do reinado de D. Fernando, nomeadamente, em 1382, quando a localidade foi tomada de assalto e incendiada por forças castelhanas, que ali chegaram depois de terem assediado Lisboa e subido o Rio Tejo, no âmbito da Terceira Guerra Fernandina. Tal situação terá sido determinante para que, em 25 de Dezembro de 1383, D. Leonor Teles, na qualidade de regente do reino, tivesse devolvido Vila Nova da Rainha à tutela de Alenquer, realidade que vigorou até 1855, ano em que a localidade transitou para o concelho de Azambuja.

 

 

 

Conhecida como "a terra das 3 mentiras"

Vila Nova da Rainha está historicamente entronizada como berço da aviação portuguesa, fruto da Escola de Aeronáutica Militar que nela se sediou no contexto da 1.ª Grande Guerra de 1914-1918. Se durante muitos anos se dizia de Vila Nova da Rainha como a terra da 3 mentiras – nem vila, nem nova nem da rainha e que a História já há muito derrogou e provou que era a terra das 3 verdades – foi e é Vila, foi uma Vila Nova para a distinguir da Vila velha que era Alenquer e da Rainha, por ser uma das vilas portuguesas senhoreadas pela Casa das Rainhas de Portugal.
Embora efémero, foi concelho por vontade de D. Fernando, em finais do século XIV. Apaixonado por esta Vila, nela assinou e despachou o diploma que deu a administração das ilhas Canárias em nome do Rei de Portugal a Lançarote da Franca. Na sua igreja de Santa Marta se celebraram os esponsais de D. Leonor de Alvim com o Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira, hoje S. Nuno de Santa Maria. Esta dedicação afectiva do «Rei o Formoso» por Vila Nova da Rainha, teve um custou muito alto na sua história – foi pilhada, incendiada e arrasa pelos Castelhanos no contexto da II Guerra Fernandina, perdeu a autonomia e a categoria de concelho e regressou por despacho da Regente Leonor Teles, à condição de Paróquia anexa a Santo Estevão de Alenquer, estatuto que se mantém desde finais do século XIV até meados do século XIX.
Por uma «Representação» dos seus moradores ao Rei, a partir de 1856 passa a Paróquia anexa a Nossa Senhora da Assunção da Vila de Azambuja, argumentando a forte ligação social, económica e viária, que então já não existia em relação a Alenquer.
E a questão viária era em termos de infraestruturas e obras de arte, uma questão cuja literacia histórica nos entra naquele paradigma da “Herança Comum”. Mantendo activo desde a Idade Média e até ao século XIX um porto como terminal fluvial tagana, de ligação a Lisboa, as vias terrestres teriam de o complementar.
Desta complexa necessidade e realidade, chegaram aos nossos dias 3 obras de arte, pontes que asseguravam a ligação entre margens dos rios Ota e Alenquer.
As pontes de S. Bartolomeu asseguravam a ligação de Vila Nova da Rainha a Alenquer e situam-se na antiga via romana de Alenquer para Santarém e com intervenções de consolidação da época Moderna, segundo a tese de mestrado de Miguel Cipriano Costa, dissertação apresentada na Universidade de Coimbra em 2010, com o título «Redes viárias de Alenquer e suas dinâmicas».
São estruturadas em 2 arcos, tal como acontece nas suas congéneres a Sul do aglomerado urbano, esta na antiga via medieval que ligava Vila Nova da Rainha às vilas da Castanheira, Povos e Vila Franca de Xira. Transitável e que nos nossos dias garante a Poente o acesso ao aglomerado urbano, é a monumental ponte sobre os rios Ota e Alenquer. Deverá a sua origem ao reinado de D. Maria I e ao primeiro plano viário nacional de finais do século XVIII. Se é verdade que fez soçobrar as pontes medievais de ligação à Castanheira e Lisboa, Vila Nova da Rainha passou a inscrever-se no Mapa das Estradas do Reino, por se situar na Estrada Real de Lisboa para Santarém.
Hoje corre-lhe em paralelo o altaneiro viaduto da EN 3. Se no plano altimétrico esta obra de arte da década de 1960 quase esmaga a escala menor das suas funcionais congéneres, não fica esmagada na “Herança Comum” das gerações de viandantes, almocreves e peregrinos que as usaram durante séculos. Pelo contrário, hoje são, uma imagem forte na paisagem e nas imagens fotográficas únicas que propiciam.

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